Não quero saber do que poderá vir, quero saber do que há
agora, daí pensar que deva desistir de ti. No entanto, há sempre algo que me
agarra e me traz para trás. Não sei o que é, será a nossa amizade, ou será algo
mais? Rezo, sim, rezo imenso, mas não me traz o conforto que me trazia. Peço
respostas e não me vêm, peço soluções e parece que Deus Se cala.
Começo a pensar que nem Ele sabe o que está para vir, o
que é um certo absurdo, mas no que toca a ti, é tudo tão inconstante. Sempre o
foste, mesmo quando éramos apenas amigos, mas que raio? Tenho sempre que aturar
as tuas discrepâncias, as tuas inconstâncias? Mas porquê? Nem tens o mínimo do
respeito por mim, pelas nossas memórias e pela nossa amizade.
Apenas tens respeito por uma coisa e isso é o teu bem-estar.
Não queres saber de mais ninguém, se quisesses terias a decência de falar
comigo, que nem isso tens. É incrível pensar nisso, porque te conheço. Desde os
doze anos. Tenho dezassete agora.
As minhas amigas dizem que ainda és criança, mas eu não
concordo. Vi-te chorar, sei que podes ser humano, és uma pessoa tal como as
outras. Então porque queres levar isto por este lado? Ser infantil, ser um
idiota? Ser um canalha sem coração? Eu sei que o tens. Eu sei que sim. Aliás os
teus lábios não formariam aquele sorriso se não tivesses coração. Além disso os
meus lábios não beijariam os teus, se não tivesses coração, então, porquê? Responde-me.
Porquê?
Fiz algo que merecesse isto? Começo a pensar que é alguma
punição que tenha de pagar. Eu cá sei da minha vida, porque ficaste tão
chocado? Deixaste-me, no vazio, abandonada, sem saber o que fazer. Socorri-me a
quem me queria no momento. Então porque me julgas? Quando nunca na minha vida o
fiz contigo? Estás-me a castigar? Mas eu dei-te razões? Ou motivos para seres
assim comigo, ou para teres essas atitudes?
Eu prefiro tanto que me digam a verdade, me digam o que
se passa, do que evitar ou ignorar o assunto. Então, porra, fala comigo. É assim
tão difícil abrir a boca e dizer o que sentes? Cada dia que passa parece que a
nossa distância aumenta, a nossa comunicação está-se a desvanecer, e eu fico
aqui. Sem esperanças, a fitar a parede – ou o computador neste caso.
Nem que beba até cair, nem que esteja com outros rapazes,
nada me faz sentir do modo que sempre me fizeste sentir. Não foste o meu
primeiro amor, e vamos ser realistas, não és o grande amor da minha vida, ou o
tal “homem da minha vida”; porque disso eu sei quem é, disso, eu pelo menos
tenho a certeza, o que não tenho em relação a ti e isso deixa-me maluca. Não
sei o que fazer, não sei o que tenho de fazer, porque não sei o que se passa. Ou
o que te levou a ter essa atitude comigo, porque de todas as pessoas acho que
era a que menos merecia esse tratamento da tua parte. Quando todos te viraram
as costas, quando todos desistiram de ti, quando todos se riram de ti… onde estava
eu? Do teu lado. Sempre estive, sempre estive a teu lado, nunca te abandonei. Apesar
de nos termos distanciado durante uns meses, eu nunca deixei de pensar em ti,
aliás como se pode esquecer uma amizade como a nossa? O nosso primeiro melhor
amigo? O nosso grande amigo? Não sei, não sei.
Deixaste-me assim tão mal, tão no vácuo. Mas porquê? Eu não
te dei amor estes anos todos? Nunca te apercebeste dos meus sentimentos? Toda a
gente se apercebeu – e esses momentos que tive contigo, quando estive realmente
contigo, os teus abraços e os teus beijos, ah… -- não sei o que se passou, mas
talvez me tenha deixado cair em ti, me tenha deixado ir, sem olhar a queda. E esse
foi o meu grande erro. Não saber o que contar, e mesmo assim, depositei toda a
minha fé e amor cego em ti, nunca me entreguei desse jeito a alguém. A ninguém.
Nunca beijei ninguém como te beijei a ti. Tenho tantas saudades tuas.
Tenho tantas saudades tuas.
As palavras ressoam na minha mente, a minha mente não
consegue apagar estas memórias, não consegue passar um pano e fingir que nada
aconteceu, eu não consigo fazer isso, eu não consigo fingir que não exististe. Eu
não consigo apagar cinco anos da minha vida, como se fosse um documento antigo.
Mas a quem é que interessa quem está errado? Eu só te quero de volta. Eu só
quero os teus braços em mim, eu só quero o teu olhar, eu só quero o teu
sorriso, os teus cozinhados, os teus sorrisos e as tuas palavras doces. Eu só
te quero de volta.
Tenho tantas saudades tuas.
Eu apenas queria o teu calor outra vez. Os teus lábios. Eu
tenho saudades de tudo em ti, como é possível, como podes causar isto em mim? Espero
que sofras. Espero que sofras quando te aperceberes que me fui embora, porque
isto está-me a matar por dentro, isto está a corroer toda a minha força, tudo o
que restava de mim, esta turbulência, está a afundar o meu barco.
Eu só te quero a ti. Porque me custa tanto…? Porque me
custa afastar? Porque sei que estou a perder alguém por quem vale a pena lutar
e o pior de tudo é que não me estás a dar oportunidade de lutar por ti, e isso
é que me enerva. Porque eu quero lutar por ti, batalhar até cair, porque sei
que, no fim, valerá tudo a pena.
Ouvir uma música tua, deita-me a baixo. Vou completamente
a baixo, são como espadas a trespassarem o meu corpo, como setas nos olhos,
como punhais no meu coração. É tão difícil de acreditar como estamos agora. E não
há como negar, eu amo-te. Vou-te amar sempre, talvez até sejas o amor da minha
vida, talvez não, mas tal como disse, eu não quero saber do que está para vir,
mas antes do que acontece agora, e parece que não te apercebes… que pessoa como
eu não vais encontrar, pessoa que te valorize como eu te valorizei, pessoa que
te ame como eu te amei, e pessoa que se encaixe em ti como eu encaixo… é por
isso que doí tanto, porque eu sei que isto tudo também serve para ti.
Mas agora, despeço-me. Despeço-me com o coração nas mãos,
despeço-me, completamente destroçada, completamente fora de mim, porque não
deveria tomar atitudes quando se está triste ou magoada, mas merda,
magoaste-me. Merda, tu fizeste-me chorar. Nunca chorei por um rapaz, antes. Antes
era fria, indiferente, agora pareço uma totó qualquer. Magoaste-me tanto,
Denys. Magoaste mesmo. Só espero que saibas que, agora me vou, que agora nunca
mais vou voltar, nunca mais vais ter aqui a escrava à tua espera, como se fosse
um cão treinado. Não. Acabou. Acabou agora. Estou diferente, fizeste-me mudar. Agora
as minhas muralhas estão mais altas que o céu. Nunca mais vou abri-las. Vou ser
a rainha do gelo agora.
Tenho tantas saudades tuas.
Leonor.